segunda-feira, 11 de maio de 2015

Apegos

     Todo dia antes de eu dormir eu fico umas três horas deitada na cama, fingindo estar adormecida, quando na verdade eu estou é mais acordada do que nunca, pensando. Posso dizer que sou viciada em pensar, porque por mais que eu tente, é impossível esvaziar minha mente, e eu meio que gosto dessa minha confusão mental. Costumadamente minhas reflexões sempre "terminam" concluindo que tudo-o-que-quer-seja é por conta do meu hábito de apego. Apego à pessoas, situações, objetos, ideais, sonhos.
     Comumente as pessoas em geral tendem a não se apegar (ou aconselham isso, pois duvido que realmente o façam) a fim de evitarem futuras mágoas. Eu não sou assim. Eu amo me apegar ao que quero, porque eu realmente quero, porque isso me satisfaz. Não tenho medo de me magoar porque sei que isso é inevitável, inclusive considero o resultado final desse processo de mágoa uma conquista pessoal, porque me fortalece. É engraçado, mas estarei pronta para me apegar de novo, pra depositar todo o meu "eu" na minha nova paixão.
     Detesto essa imposição moral sobre desapegos, porque o que acontece com a raça humana é o fenômeno ridículo de apagamento de boas memórias. Esse processo maligno costuma deixar na nossa mente só a mágoa-consequência daquele apego bonzão que as pessoas um dia tiveram. Daquele apego em que você sentiu todo aquela paixão intensa, que você sentiu a vida queimando dentro de você. Seria muito bom se as pessoas se apegassem a esse tipo de coisa. Aliás, seria muito bom se elas realmente fossem livres pra se apegar a tudo o que elas quisessem.

Crônica de Gabriela Cunha dos Santos.

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